O governo Lula (PT) não deve fazer movimentos que possam causar tensão na relação com o União Brasil neste momento, apesar de integrantes do Palácio do Planalto terem ameaçado rever o espaço do partido na Esplanada diante da recusa do deputado federal Pedro Lucas (União Brasil-MA) em comandar o Ministério das Comunicações.
Esse vaivém causou um constrangimento público e mostrou fragilidade do governo, além ter virado motivo de chacota da oposição. Na avaliação de congressistas governistas e do centrão, no entanto, o governo federal não está numa posição confortável para exigir fidelidade dos partidos, num momento de baixa popularidade do presidente Lula.
A avaliação é de que o Executivo não dispõe de instrumentos nem força para qualquer reação nesse sentido. Além das Comunicações, o União Brasil tem indicados nos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento Regional.
Na terça-feira (22), Pedro Lucas divulgou nota à imprensa oficializando a recusa do convite, 12 dias após ser anunciado novo chefe das Comunicações pela ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais). Ele optou por continuar como líder do partido na Câmara, para evitar uma disputa pelo cargo.
O gesto irritou até mesmo o presidente da República, segundo um interlocutor do petista. No entanto, apesar das queixas à postura do partido, classificada como falta de respeito com o governo federal, o Palácio do Planalto vai aceitar nova indicação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para chefiar o ministério —havia sido de Alcolumbre também o patrocínio ao nome de Pedro Lucas.
Lula aceitou nesta quarta-feira (23) o nome do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, para a chefia a pasta. A indicação ocorreu em reunião com o presidente do Senado e com Pedro Lucas.
A expectativa é que a formalização do nome ocorra até esta quinta-feira (24).
O cargo estava vago desde 8 de abril, quando Lula decidiu demitir Juscelino Filho (também do União Brasil) após ele ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por suposto desvio em emendas parlamentares. Ele nega as acusações.
Lula havia afirmado no ano passado, quando o político foi indiciado pela Polícia Federal, que o afastaria caso ele fosse denunciado pela PGR.
Uma ala do governo defende que Lula priorize a relação direta com Alcolumbre, em detrimento dos dirigentes do União Brasil. O senador tem grande força política e se aproximou do petista desde que assumiu a presidência do Senado, no começo do ano. É considerado, hoje, o grande aliado do presidente.
Por outro lado, o petista tem uma relação distante com o presidente do partido, Antonio Rueda, e nunca o recebeu para uma reunião. Pedro Lucas, que continuará como líder da bancada na Câmara, é um dos principais aliados de Rueda.
Por isso, aliados do governo pregam cautela nos passos que serão dados. Formado por uma ala mais oposicionista e outra que defende maior aproximação com o Executivo, o União Brasil é a terceira maior bancada da Câmara (com 59 deputados), além de ter sete senadores. O líder tem grande influência sobre esses votos.
Dois ministros ouvidos pela reportagem buscaram minimizar qualquer dano à imagem do governo e disseram que o real prejudicado seria o partido, por expor divergências internas publicamente. Um auxiliar de Lula diz que o episódio reforça a visão de que o partido é dividido e que, nessa equação, o aliado do governo é Alcolumbre, e não o União Brasil.
Pedro Lucas, no entanto, prepara gestos ao governo para mostrar que a decisão foi a mais acertada e que será a melhor para o Executivo, que poderá contar com uma bancada mais fiel na Câmara.
“Acho que contribui mais [para o governo] ter essa tranquilidade [nas votações] do que eu ir para o ministério por vaidade”, disse em entrevista à Folha. “Fui convidado, mas não poderia deixar a minha bancada em guerra, que isso não iria ajudar o governo.”
Foi para evitar uma nova disputa pela liderança da bancada que o congressista decidiu continuar na Câmara e não ingressar no governo, segundo ele. A eleição dele para a bancada levou três meses de uma intrincada negociação, até que os adversários internos retirassem as candidaturas diante da pressão de Rueda —que controla o fundo eleitoral da legenda.
Mas esses grupos internos, que incluem a parcela mais oposicionista da legenda, movimentavam-se para concorrer ao cargo caso ficasse vago com a ida do líder para o ministério. Além disso, Alcolumbre queria que o ex-ministro Juscelino Filho assumisse a função após deixar o governo, mas os deputados se insurgiram contra a interferência externa.
Na oposição, o imbróglio motivou críticas ao governo. “O Governo Lula tinha anunciado Pedro Lucas como o novo Ministro das Comunicações”, disse o deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) na terça. “Qual foi a resposta de Pedro Lucas? ‘Eu? Fora dessa barca furada!’ Ele se mandou.”
Fonte: Política Livre