Raphael Veiga costuma aparecer na Academia de Futebol fora dos horários de treino para trabalhar na própria recuperação. Há menos de uma semana, usou as redes sociais para desabafar sobre o mau momento vivido no Palmeiras e terminou abraçado pela torcida. Nos vestiários, o apoio é constante, mesmo quando discordam das decisões do atleta.
– Primeira coisa é não ter vaidade. Quando o Mister falou que o Carlos Miguel ia jogar, falou que me dava folga se eu quisesse. Mas que líder seria eu, e que índole eu teria, se deixasse vocês na mão? Jamais faria isso, e na situação e que a gente estava. Um vai jogar, outro vai jogar, mas temos de estar prontos para ajudar quem vem jogando. Grupo ganha coisas. Pode até estar chateado por não jogar, mas ter humildade de ajudar o companheiro… Acho que esse é o caminho – disse Cássio, em vídeo divulgado pela Corinthians TV.
Ainda em Buenos Aires, na madrugada da quarta-feira passada, Cássio foi amparado por funcionários do Corinthians que buscavam entender o desabafo feito pelo goleiro minutos depois do apito final na derrota para o Argentinos Juniors, em jogo válido pela Conmebol Sul-Americana.
O foco da conversa era a preocupação com a saúde mental do seu principal ídolo, que havia deixado claro que a cobrança pelos maus resultados da equipe na temporada vinha influenciando diretamente em sua vida, dentro e fora de campo.
– Atuamos desde lá, assim que ele deu a entrevista, nós já começamos a trabalhar. Internamente já foi feito tudo que tinha que ser feito. Já foi tudo conversado, o Cássio é um grande ídolo, estamos tratando, cuidando do ser humano. Então, é isso que foi feito e ele está aí, está nos ajudando também, ele também está à disposição e a gente está feliz, porque ele está disposto a isso – explicou Fabinho Soldado, executivo de futebol do clube.
Desse momento até a divulgação da escalação no jogo seguinte, com Cássio no banco de reservas contra o Fluminense, o Corinthians cercou e procurou blindar o camisa 12 da pressão do time que não vencia e marcava gols havia quatro partidas. O clube chegou a liberar o goleiro do jogo, mas ele optou por continuar entre os relacionados.
O primeiro a falar publicamente sobre o goleiro foi António Oliveira, no pré-jogo:
– Cássio é um assunto nosso. Já bateram tanto nele, acho que chegou um ponto que já chega. Eu acho engraçado que é a vida toda a bater e depois (vocês) têm pena. Devíamos ter um pouco mais de respeito e até termos mais cautela no que perguntamos, temos um impacto na vida das pessoas. Andaram a bater, a bater e agora têm pena? Agora já é tarde. Saúde mental…As pessoas passam o pano, o que querem é notícia. Sobre o Cássio, é assunto nosso e não diz respeito a ninguém.
Depois da partida, o treinador voltou a responder sobre o goleiro:
– Eu já tinha falado de saúde mental no jogo contra Atlético-MG, as pessoas devem ter cautela e atenção. As pessoas andam a bater e depois quando as coisas acontecem tem pena. Agora já é tarde. Os mesmos que têm pena são os que carregaram. Sobre Cássio, é uma conversa minha e dele, ninguém tem nada a ver com isso. Minha forma de gerir. Ser treinador não é só 4-4-2, 4-3-3, é muito mais que isso. Isso é 20%, o resto é gerir um grupo de trabalho com 30 egos diferentes. Cássio não é culpado de nada, estamos aqui para ajudar, ele vai voltar forte, temos de olhar sempre para o ser humano.
A conversa com Cássio foi franca e aberta, deixando clara a preocupação com a saúde mental do jogador e com os reflexos que poderiam afetar o time dentro de campo. Por isso, a decisão de preservar o jogador e também dar chance ao jovem Carlos Miguel.
O retorno de Cássio ao time titular dependerá da sua recuperação no dia a dia e também de uma brecha de Carlos Miguel. Fora de campo, o camisa 12 tem trabalhado com profissionais da área da psicologia, além de ter à disposição do clube pessoas especializadas na área, como Anahy Couto – psicóloga contratada do São Paulo no início do ano.
![Cássio é cercado por crianças antes de Corinthians x Fluminense — Foto: Emilio Botta](https://s2-ge.glbimg.com/FrXbMJvzTToOl6vdWoBkr6V-KlA=/0x0:1600x1200/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/3/4/DMDKCbRAGiIgysfQ7mMg/whatsapp-image-2024-04-28-at-18.12.50.jpeg)
Cássio é cercado por crianças antes de Corinthians x Fluminense — Foto: Emilio Botta
Além da ajuda profissional, Cássio tem sido abraçado pelo elenco no dia a dia e viu das arquibancadas, após o apito final da vitória sobre o Fluminense, o apoio dos mais de 41 mil torcedores presentes na Neo Química Arena.
– Como deve ter feito bem para ele esse jogo [contra o Fluminense]. O torcedor apoiou o Cássio, gritou o seu nome, o melhor goleiro do Brasil. Certamente isso ajudou para que ele se recupere e continue nos ajudando e dando bastante alegria por torcedor. É um caso que a gente está muito atento para que, não só o Cássio, acho que o mister falou sobre isso na entrevista, a pressão é muito grande sobre esses atletas, atrás desses atletas, da gente também, existe um ser humano, famílias e pessoas que sofrem pressões e que precisam estar bem nessa parte mental para que consigam exercer as suas funções da melhor maneira possível – disse Fabinho Soldado.
No Corinthians desde 2012, Cássio soma 712 jogos pelo clube, sendo 710 como titular. No período, foram nove títulos conquistados: Campeonato Paulista (2013, 2017, 2018 e 2019); Campeonato Brasileiro (2015 e 2017); Conmebol Libertadores (2012); Mundial de Clubes (2012), além da Recopa Sul-Americana (2013).
Fonte: Ge