O contrato de apenas três meses assinado para defender a Portuguesa no Campeonato Paulista aponta para uma nova realidade na vida de Henrique Almeida. Aos 33 anos, o centroavante caminha para a reta final de uma carreira que começou sob grande expectativa.
Revelado pelo São Paulo, o atacante estourou e ganhou fama no futebol depois de ter sido artilheiro e eleito o craque do título Mundial sub-20 conquistado pela seleção brasileira em 2011.
Naquela geração, Henrique Almeida se destacou em meio a nomes como Casemiro, Oscar, Philippe Coutinho, Dudu, Roberto Firmino, além de Lucas Moura e Neymar, que não disputaram o torneio por estarem com a Seleção principal na Copa América.
– O peso é muito maior, dobrado. Eu vim como o melhor do mundo, artilheiro e tudo mais, só que ninguém joga sozinho a não ser o Neymar. Era mais ou menos isso. E aí veio com esse peso do Mundial e de tudo mais, consegui lidar bem com isso, porém, as pessoas queriam que eu sempre resolvesse tudo. E não é desse jeito.
– E eu acho que o jogador, independentemente da idade também, ele tem ali a maturação, ele tem o ser inserido no profissional, tem a transição, enfim, passa por inúmeras coisas, processos. E ali você tem que ter um pouco de paciência, enfim, e também apostar no que você está acreditando e deixar jogar, deixar ter sequência, coisa que no começo eu não tive tanta – conta Henrique.
Henrique Almeida comemora gol pelo Brasil no Mundial sub-20 2011 — Foto: Reprodução/Fifa.com
Henrique Almeida confessa que o peso da expectativa em torno do seu futuro acabou atrapalhando na sequência da carreira. Depois de deixar o São Paulo, o atacante rodou por vários clubes do Brasil e do exterior, mas nunca conseguiu se firmar como o esperado.
– A gente é muito ansioso para poder jogar, jogar, jogar, independentemente do lugar e tudo mais, eu teria aguardado, esperado mais o momento, eu tinha cinco anos de contrato no São Paulo, enfim, querer sempre sair para jogar, independente do lugar que seja, ter um pouco mais de paciência porque as coisas vão acontecendo. Então como o Lucas teve, o Casemiro teve, que ficaram ali no São Paulo, tiveram tempo, o William José, o Bruno Uvini, acabaram jogando, tendo mais sequência e acabaram saindo posteriormente.
– Então eu acho que é isso, cara, eu acho que a gente, quando é novo, não pensa muito nas consequências, a gente quer só jogar, quer só estar dentro de campo e às vezes não é assim, às vezes você tem que ter um pouco de paciência, esperar seu momento, independente se você é o melhor do mundo, sub-20 ou não, acho que é tudo um processo e aí acabou que eu atropelei um pouco os processos, mas enfim, aconteceu, ficou no passado e agora é bola para frente – disse.
Biografia
- Nome: Henrique Almeida Caixeta Nascentes
- Idade: 33 anos
- Posição: centroavante
- Carreira: São Paulo, Vitória, Granada, Botafogo, Sport, Bahia, Coritiba, Grêmio, Giresunspor (Turquia), Sad (Portugal), Chapecoense, Goiás, América-MG, Vila Nova e Portuguesa.
- Títulos: Mundial sub-20 (2011); Sul-Americano sub-20 (2011); Campeonato Baiano (2010); Campeonato Carioca (2013); Campeonato Paranaense (2017); Série B do Brasileiro (2015) e Copa do Brasil (2016).
- Prêmios individuais: chuteira de ouro e melhor jogador do Mundial sub-20 (2011).
Quase um galáctico…
O destino de Henrique Almeida poderia ter mudado a partir de uma proposta do Real Madrid. Depois de se destacar em torneios de base, chamar atenção do clube merengue e passar por um período de treinos na Espanha, o atacante acabou vendo o acordo para atuar no clube ser desfeito. Duas vezes, uma quando defendia o São Paulo e outra quando estava no Botafogo e até chegou a assinar contrato com o clube espanhol.
– Cheguei lá, fiquei treinando durante um mês ali no Castilla, só que o Botafogo estava com problemas judiciais, da época antiga, enfim, de outros tempos, então não podia vender, emprestar e nem negociar nenhum jogador. E na época o Real Madrid estava negociando com o Bale, aquele negócio todo no último dia de janela, acabou que contrataram o Bale e eu não pude ir. E eu estava lá, assinei com o Real Madrid, só que eu não fui inscrito na liga, então ficaria ali sem jogar até dezembro. E ali, em acordo comum com eles, resolvi voltar para terminar o campeonato com o Botafogo e no final do ano eu voltaria.
Contrataram o Bale e eu não pude ir, assinei com o Real Madrid, só que não fui inscrito na liga e ficaria sem jogar.
— Henrique Almeida.
– Só que nesse que eu voltei, o Willian José acabou indo, fiquei muito feliz que ele foi, e dali ele seguiu carreira. E quando acabou o campeonato pelo Botafogo, a gente classificou para Libertadores e aí no ano seguinte eu seria o nove da Libertadores do Botafogo 2014 e acabou que o Botafogo não me liberou voltar para o Real Madrid na época. E o Willian José seguiu lá no Real Madrid.
Seleção sub-20 levanta o troféu do Mundial conquistado em 2011 na Colômbia — Foto: AP
Apesar de quase ter jogado no melhor do time do mundo, que posteriormente viria a conquistar inúmeros títulos sob a batuta de Cristiano Ronaldo e cia, Henrique Almeida não fala em frustração.
– Na verdade, é engraçado. Até conversei com o Casemiro, na época estava lá e fiquei na casa dele, ele me levava para treinar e tudo. E ele falou: “mano, se tudo der errado aqui, você é jogador do Real Madrid, vai vir todos os times do Brasil, do mundo, vai querer você”. E foi o que aconteceu com o Casemiro, ele chegou no Real Madrid, ele ficou no Castilla e acabou que ele não ficou lá e ele foi para o Porto. E depois o Real Madrid refez a compra dele.
– E acabou que eu fiquei lá um tempo, ele me ajudou bastante, a gente conversa em times, mas é isso, acabou não dando certo, acabei voltando e segui a carreira por aqui – disse.
Casemiro foi multicampeão pelo Real Madrid — Foto: Divulgação / Real Madrid
Sonhar é de graça
Aos 33 anos e com contrato até o fim do Campeonato Paulista, Henrique Almeida espera se destacar e conseguir realizando o sonho de atuar por um time grande na reta final da carreira. O objetivo é voltar a disputar grandes competições.
– A gente tem que sonhar alto, com certeza. Voltar a fazer gols, voltar a jogar em alto nível, voltar a jogar… não que aqui não seja, não entenda mal, aqui é altíssimo nível jogar um Campeonato Paulista, mas como você falou, jogar uma Libertadores, jogar uma Série A, acho que todo jogador tem que almejar e tem que estar sempre pensando nisso. Ainda estou com 33 anos, vou fazer 34. Acho que eu tenho mais uns três, quatro anos de carreira legal. E é buscar sempre estar na minha melhor forma, na minha melhor forma fisicamente, psicologicamente, dentro de campo, ajudar.
– Almejo coisas grandes sempre, estou aqui na Portuguesa hoje, estou muito feliz. O que almejo hoje aqui é fazer um excelente Campeonato Paulista, poder fazer vários gols, poder ajudar a Lusa e o futuro a Deus pertence. Quando eu ver que não estou mais ajudando, que estou atrapalhando, que não é mais o momento de estar ali, acho que a gente procura outra coisa para fazer.
*Colaborou sob supervisão de Diego Ribeiro
Henrique Almeida em treino da Portuguesa — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa
Fonte: Ge